quinta-feira, abril 03, 2008

Por isso é que me fico sempre pelas capelas…

Confesso que nunca fui muito ligado a questões da igreja, respeito muito quem é, uns acreditam num deus outros noutro, enquanto se souberem respeitar mutuamente a convivência é sempre de saudar. Reclamamos quando assim não acontece. Se andam aos tiros uns com os outros é porque são terroristas ou porque foram cruzados. Pois bem, o mundo vai andando e as pessoas habituaram-se.

Hoje em dia e reconhecendo a enorme influencia da igreja católica na sociedade em que estamos inseridos há cerimónias que, atrevo-me a dizer, são comuns a fieis e infiéis. Embora cada vez existam mais pessoas a casar e a dispensar as cerimónias religiosas a verdade é que a expressão “Só te lembras da Santa Barbara quando está a trovejar!” aplica-se na íntegra no que aos funerais diz respeito. A não ser quando as pessoas são verdadeiramente ligadas à igreja, vão à missa (mesmo que por vezes faltem) e ensinam as crianças o melhor que podem baseando-se, fruto da conjuntura actual, no que podem. À igreja não cabe julgar essas pessoas, não compete fazer aos homens o juízo do divino, não existe um telefone nem um dicionário que ensine a interpretar a sociedade de à dois mil anos atrás nem se pode impor à humanidade reger-se pelos princípios dessa época. À igreja compete, segundo me lembro, receber mesmo as ovelhas tresmalhadas, aceitar quem a ela se dirige e recebe-los de braços abertos.

Hoje, contou-me um passarinho, não foi isso que se passou. Felizmente o ocorrido foi mesmo em Alvaiázere porque, primeiro reconhecendo que o pastor de cá não é assim tão má pessoa e depois porque a população se revoltaria na certa contra uma situação no mínimo estranha. Houve uma criança que não teve a mesma sorte dos outros e infelizmente não sobreviveu neste mundo estranho, com um mês e meio de idade faleceu. Não me interessa como nem porquê, não conheço os pais e da história só conheço a parte final. O que me espantou foi o prior daquela paróquia não aceitar realizar as exéquias aquele ser humano, sim o mesmo que professam existir desde a concepção, nem permitir à criança ser velada na igreja. Ora os priores nunca foram santos, e imaginando que pudessem vir a ser há sempre aqueles que a justiça divina, havendo ou não, se encarregará de julgar. Desconfio que o de Alvaiázere terá a dele e vivencia dele a justificará. Agora a parte bizarra, o motivo ou chamem o que quiserem. A recusa prendeu-se com a ausência do baptismo, ao que parece quem não é baptizado não merece mesmo sendo um ser que existe à mês e meio... Eu não sou pai, há-de chegar a altura, desconfio que nem mesmo eu fui feito sócio da igreja tão cedo mas se fosse e se por acaso me apetecesse baptizar a criança não creio que o fosse fazer no primeiro mês de vida. Sabendo o que sei hoje não o faria de todo, querem fazer das pessoas santas quando o pecado original vem de dentro da própria casa.

Com isto tudo tenho de fazer uma ressalva ao Padre Manuel. Nunca fui um apreciador da sua forma de ser, há quem seja e aceito como fazendo parte da liberdade de cada um. É sempre triste quando uma criança morre, o sofrimento dos pais deve ser terrível e é nessa altura, quando as pessoas já não se encontram bem, que aparece alguém para as meter mais para baixo. Desconfio que alguma pessoa tem de voltar a estudar para padre. Assim despeço-me com uma consideração pertinente. Se fosse filho de alguém importante esta situação teria ocorrido? A resposta já todos nós a sabemos.

A criança com certeza vai para o céu já o recusante tenho as minhas duvidas.

Cumprimentos