terça-feira, julho 18, 2006

Carta aberta aos maçanenses*


De tempos a tempos, assim a azáfama separatista nos permita, vamos realizando aqui no MSM alguns concílios. Estas magnas reuniões têm como objectivo repensar os fundamentos da nossa fé e rever os postulados da nossa luta. A fé que nos inspira não é um dogma fechado, não acreditamos em mandamentos dos outros nem em cartilhas patriarcais. Somos o que queremos, porque vivemos em profunda paz com a nossa identidade.
Vem isto a propósito da missiva do senhor A. Inácio, que desde já agradecemos. Tem sido um dos melhores comentadores do blog, porque respeita os outros (e por isso merece o nosso respeito e aplauso), mesmo quando nos lança algumas críticas. As críticas, quando fundamentadas, podem ser para nós um bálsamo, um incentivo.
Temo-nos batido por algumas causas que consideramos justas, sérias e nobres. Já se dizia em latim que "ridendo castigat mores" (a rir se castigam os vícios), e temos como singelo propósito lançar algumas pedradas no charco, acordar algumas mentes dormentes por um sono induzido, atacar as filosofias sonofíras e as canções de embalar com que nos querem entreter.
Porquê um movimento separatista? Porque não somos uma "comissão de melhoramentos da paróquia", porque nunca fomos uma "confraria da irmandade maçanense", porque não queremos ser apenas um "clube de amigos das maçãs", ou uma "Casa de Maçãs de D. Maria no mundo".
Nós somos um movimento que se pretende separar, e a todos os que nos queiram acompanhar, face ao carneirismo militante, ao caminhismo mudo, à peregrinação alienante, ao Maria-vai-com-as-outras reinante. Afirmamos a nossa consciência, os nossos valores, a nossa identidade.
O nosso separatismo não é histórico, não é político, não é geográfico. É um separatismo face ao marasmo, face ao laxismo, face ao "porreirismo" vigente.
Não queremos atacar pessoas, mas figuras. Não desmantelamos campanhas, mas sim obras. Não criticamos projectos, mas sim prospectos. Queremos uma Maçãs sempre melhor, um maçanismo cada vez mais vigoroso. Queremos mais Maçãs.
Dos outros não reza a nossa história.
Nunca fizémos deste blog arma de arremesso pro-activo, mas não nos furtamos a defender a nossa dama. Não vivemos isolados, mas não admitimos invasões.
Não estamos aqui para fazer "ajustes de contas", pois somos muito mais credores que devedores. Queremos exigir de quem de direito que nos faça justiça, mas não a justiça popular. Não somos índios, mas também não queremos ser colonizados. Não nos movemos contra ninguém, não nos movemos por ninguém, a não ser os nossos - os maçanenses que queriam trilhar este caminho e que, com orgulho, se revejam na nossa terra.
Não somos apenas quatro amigos conterrâneos. Somos mais. Somos todos aqueles que sentem Maçãs, que não disfarçam um brilhozinho nos olhos sempre que ouvem cantar o nosso rancho, somos todos aqueles que em lado algum se coíbem de dizer de onde vêm. E acreditem, somos muitos.
Muitas vezes nos criticam por mantermos o nosso anonimato. A ingenuidade desta pergunta é quase tanta quanto a simplicidade da sua resposta. Quem nos faz tal pergunta deve desconhecer em que tipo de terra vivemos, quais as implicações práticas de dar a cara. Não somos ingénuos e sabemos bem qual o peso de algumas das coisas que dizemos. Nunca nos acobertámos sobre o manto do anonimato para ofender, para caluniar, para difamar. Sempre dissemos o que tínhamos a dizer, respeitando todos. Creio que até hoje a única pessoa que assinou um comentário neste blog foi um candidato político que quis responder a um post nosso. De resto, todos os outros comentadores se refugiaram, também eles, no anonimato. Porquê, então, tal pergunta? Ou acha mesmo que nós acreditamos que se chama Trolha Inácio?
Ainda nos lembramos do tempo em que alguns professores nos diziam “vocês são de Maçãs?”, como se nos perguntassem se pertencíamos a uma perigosa seita indígena. Na altura isso causava-nos algum mal-estar. Hoje reconhecemos nessa pergunta inquisitória o gérmen deste orgulho que carregamos no peito, e da alegria com que cantamos, em todo e qualquer lugar:
“Quem me dera agora estar
No alto da pombaria
Para ver se avistava
Maçãs de Dona Maria”

Cumprimentos e vá passando.


* E aos outros.