quarta-feira, maio 17, 2006

A profecia de Ferreira do Amaral

Quando no Portugal de 1958 a ideia da industrialização já se impusera e a indústria se tornara no sector mais dinâmico da economia, Ferreira do Amaral não resiste a fazer alguma ironia, contrapondo o apregoado bucolismo agrícola à turbulência do progresso industrial: “Maçãs de D. Maria é uma risonha freguesia rural (...), não alberga rigorosamente qualquer indústria, para além daquelas actividades mais bucólicas que fabris, que nascem e crescem pelas aldeias do interior(...). Lagares de azeite, a ferraria da aldeia, a cerâmica de barro vermelho, a serração, as harmoniosas e frescas azenhas ou moinhos de vento(...). Paio Pires (...) é tão risonha como Maçãs de D. Maria, mas não é uma freguesia rural como esta. (...) O seu concelho está no grupo dos mais industrializados do País (...). Ambas são pitorescas, estas simpáticas freguesias. Uma é pitoresca a marcar passo, entre as azenhas e as verduras (...), outra vive a indústria que nasce em Portugal: os campos em redor são menos verdejantes e vão-se manchando pouco a pouco com a poluição das chaminés das fábricas. Mas estes fumos e poeiras não são propriamente uma camada de oiro que cobrirá Paio Pires. Serão talvez prata dourada – mas são de certeza progresso evidente(...)”




Hoje em dia já temos uma fábrica de confecções... Em compensação não temos as azenhas e a cerâmica. Viva a industrialização!!!



Ferreira do Amaral, Industrialização e Urbanização, Conferência proferida na sede do Centro de Estudos Político-Sociais e 19 de Março de 1958, edição do Centro de Estudos Plítico-Sociais, Lisboa, pp. 16 e 17