segunda-feira, maio 29, 2006

A notícia que eu não quero ler neste verão...
















A nossa nação tem repórteres em todo o mundo, mesmo em Portugal.

A Ana Carvalho escreveu, no verão passado, um testemunho sobre a época dos fogos, texto esse que transcrevemos, com a devida vénia, e que se encontra disponível aqui.
"Maçãs de Dona Maria, Alvaiázere Maçãs de Dona Maria “é” uma freguesia privilegiada, o centro desta vila, do concelho de Alvaiázere, fica no cimo de uma serra, tendo assim uma vista magnífica para a vasta área florestal que ”temos”. Este Verão, a junta de Freguesia de Maçãs aderiu a um projecto de voluntariado de vigia florestal organizado pelo IPJ. Como temos várias serras relativamente altas criaram-se 2 postos de vigia, um em cada serra da freguesia com maior visibilidade. A “nós” vigias, apenas era pedido que avisássemos os bombeiros, com a maior rapidez possível, de qualquer coluna de fogo que víssemos surgir, para assim evitar que os incêndios tomassem grandes proporções. Apesar da óptima iniciativa e de termos conseguido evitar a propagação de alguns incêndios, chegou a uma altura em que os avisos já de nada serviam, estava tudo a arder… No dia 8 de Agosto o cenário foi dos piores, primeiro deflagrou um incêndio na freguesia da Pelmá, depois na freguesia de Pussos e, por último, o que acabou por ser o pior de todos, aqui na nossa freguesia! Do nosso posto de vigia (situado na serra de Santa Helena), conseguimos ver a primeira coluna de fumo surgir na base da serra de São Neutel (onde estava montado o outro posto de vigia), avisámos os bombeiros de imediato, mas…O concelho estava a arder! O País estava a arder! Instalou-se o caos em Alvaiázere, e principalmente na nossa freguesia. Todos os bombeiros combatiam incêndios por Portugal fora, não havia bombeiros… Uns kms à frente, vimos surgir outra coluna de fumo, depois outra e ainda outra (sempre em linha recta e a surgirem com o mesmo tempo de intervalo, 2-3min!), num abrir e fechar de olhos todos os focos se juntaram e aquela coluna pequenina, de fumo branco que tínhamos visto começar, era agora um enorme incêndio de fumo negro. Sentimo-nos completamente impotentes, sabíamos que ali no meio de todo aquele fumo se encontravam pequenas aldeias completamente rodeadas de pinhal. O tempo que passou (que não deve ter sido muito, espero!) até vermos o primeiro helicóptero no ar pareceu-nos uma eternidade. Acabaram por vir 5 ou 6 meios aéreos, mas já havia aldeias rodeadas pelas chamas, não houve outro remédio senão proteger as aldeias e deixar a floresta ir ardendo… Este incêndio passou rapidamente para o Concelho vizinho de Figueiró dos Vinhos e daí ainda para o concelho da Sertã, arderam mesmo muitos hectares de floresta, mas graças ao esforço dos bombeiros, que é de louvar sem dúvida, pelo menos na nossa freguesia não arderam bens imóveis. Infelizmente no incêndio da freguesia da Pelmá, um Sr. idoso ao tentar fugir de casa terá ficado cercado pelo fogo, acabando por morrer carbonizado.Como se este incêndio não tivesse já sido de mais, a nossa Freguesia voltou a arder nos dias seguintes, e desta vez, bem pertinho da vila, pelo meio de casas, quintais, e mais houvesse no caminho, o fogo subiu encosta acima, atravessou vários lugares da freguesia e mais uma vez só parou no concelho de Figueiró dos Vinhos. O pânico foi geral, não havia água, não havia bombeiros suficientes, os meios aéreos demoravam demasiado tempo a reabastecer e, valeu aqui sem dúvida, a entreajuda da população, que não se poupou a esforços para proteger as habitações. Mas não ficámos por aqui, umas semanas mais tarde, já nos últimos de Agosto, voltámos a ser assombrados pelo Fogo, mais uma vez uma grande parte do concelho estava a arder, alguns focos juntaram-se, formando uma frente de dezenas de kms que durou alguns dias. Desta vez tiveram mesmo que ser evacuadas aldeias vizinhas. Chovia cinza, de dia parecia quase noite e o ar começava a ser irrespirável… Arderam kms, kms e kms… Agora aqui do alto de Maçãs, quando olhamos para o horizonte, não vemos nem uma manchinha verde, aquilo que era, sem dúvida, uma paisagem digna de inveja é agora um manto castanho, negro e feio. A nossa freguesia foi sacrificada, o nosso concelho foi sacrificado, os nossos bombeiros foram muito, mas muito sacrificados… Resta-nos ter esperança que agora sejamos poupados, que os nossos pinhais voltem a crescer e que voltemos a ter a linda paisagem invejável que Maçãs, e o resto do concelho, sempre tiveram".
Ana Carvalho
Neste verão, EU NÃO QUERO VER O NOME DA MINHA TERRA NA TELEVISÃO!*
* A não ser que seja a cobertura em directo do Lord of the Afflites (live!)